Quando o Estradiol Vai Embora: O Que Muda em Nós — e Como o Cérebro Feminino Se Reinventa

Inspirado nas obras “O Cérebro e a Menopausa”, de Lisa Mosconi; “A Nova Menopausa”, de Mary Claire Haver; e “Quem tem medo da menopausa?”, de Joele Leripio

CÉREBRO X MENOPAUSA

Você talvez ainda não tenha conseguido nomear exatamente o que está mudando, mas algo dentro de você já percebeu: o corpo já não responde do mesmo jeito, a mente parece funcionar em outro ritmo, e há dias em que você simplesmente não se reconhece por inteiro. É como se, de maneira silenciosa, uma transformação estivesse em curso. E está. Essa mudança, muitas vezes sutil e profunda ao mesmo tempo, tem um protagonista invisível: o estradiol — um hormônio que, sem alarde, está deixando de atuar como antes. E com ele, diversas funções vitais do organismo feminino começam a se reorganizar, especialmente no cérebro.

Mais do que um hormônio reprodutivo: um neuroprotetor poderoso

Como mostra a neurocientista Lisa Mosconi, o estradiol é muito mais do que um hormônio ligado à fertilidade. Ele é essencial para a saúde cerebral, emocional e metabólica da mulher. A Dra. Mary Claire Haver reforça que a medicina tradicional negligenciou por décadas o impacto da menopausa no corpo como um todo, e que o conhecimento sobre o papel do estradiol ainda está se difundindo — embora seja decisivo para entender sintomas que vão além dos “fogachos” e da menstruação irregular.

Esse hormônio atua em áreas como o hipocampo e o córtex pré-frontal, regula neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, estimula a plasticidade cerebral e protege os neurônios do envelhecimento. Também está diretamente envolvido no metabolismo da glicose cerebral, principal fonte de energia do cérebro, além de exercer funções anti-inflamatórias e antioxidantes. Um verdadeiro escudo interno — e silencioso — que mantinha corpo e mente funcionando em sintonia.

E quando ele começa a cair...? O que realmente muda?

Na transição da perimenopausa, o estradiol começa a oscilar de forma imprevisível. E essa instabilidade se traduz em sintomas difusos, muitas vezes desconsiderados ou confundidos com ansiedade, estafa ou “falta de controle emocional”. Joele Leripio, em sua obra, afirma que a invisibilidade desses sintomas gera solidão e autocrítica injusta em muitas mulheres. O que está em jogo, porém, não é falta de força — é neurobiologia em transformação.

Com a chegada da menopausa, a produção de estradiol despenca. E o impacto é sentido principalmente no cérebro: alterações cognitivas, insônia, irritabilidade, sensação de esgotamento e até sintomas semelhantes à depressão são comuns — e ainda pouco reconhecidos como manifestações da queda hormonal.

Neurociência e adaptação: não é o fim de uma fase, é o início de outra

Lisa Mosconi mostra em seus estudos com neuroimagem que o cérebro feminino passa, de fato, por um processo de reconfiguração estrutural e funcional nesse período. Áreas ligadas à linguagem, memória e processamento emocional podem temporariamente diminuir de volume — mas, com o tempo, o cérebro adapta suas redes neurais, criando novas conexões e estratégias de funcionamento.

Mary Claire Haver reforça: esse não é um período de colapso, mas uma oportunidade de transformação. O corpo muda, sim — mas pode florescer sob novas bases, com uma abordagem baseada em ciência, informação de qualidade e autocuidado.

Como apoiar essa transformação com ciência e cuidado

Sabendo que o estradiol afeta tanto o cérebro quanto o metabolismo e a saúde cardiovascular, é essencial adotar uma abordagem multidimensional para cuidar de si nesse momento. Haver propõe o que ela chama de “menopausa com estratégia”, unindo ciência, nutrição, movimento e suporte emocional. Algumas estratégias fundamentais incluem:

Atividade física regular, especialmente aeróbica , para estimular a oxigenação cerebral e a liberação de dopamina.

Alimentação anti-inflamatória, rica em fitoestrógenos, antioxidantes e ômega-3.

Sono restaurador, com higiene do sono rigorosa.

Gerenciamento do estresse, com práticas como meditação, mindfulness e respiração consciente.

Psicoterapia como apoio para compreender e reorganizar o emocional.

Avaliação hormonal personalizada, quando indicada, para considerar terapia hormonal com segurança.

Você é a protagonista dessa reconfiguração


O estradiol pode estar indo embora, mas quem fica é uma mulher com vivência, capacidade de decisão e potência para transformar sua história com mais consciência do que nunca. A menopausa não é o fim da saúde, da produtividade ou da clareza mental — é o convite para conhecer uma nova versão de si mesma.

Essa é uma travessia. E, como toda travessia, ela exige presença, escuta e apoio. Mas também oferece o que poucas fases da vida oferecem: a chance de viver com mais coerência, mais autonomia e mais verdade.

Você não está sozinha. E isso, definitivamente, não é um declínio.

É ciência, é adaptação. É potência.

Baseado nas obras “O Cérebro e a Menopausa”, de Lisa Mosconi; “A Nova Menopausa”, de Mary Claire Haver; e “Quem tem medo da menopausa?”, de Joele Leripio.

Texto por Dra. Daniela Ghorayeb
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