Como funciona o Nosso Cérebro quando Temos Alguma Compulsão?

Compulsões acionam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina e gerando prazer. Esse ciclo torna difícil controlar os impulsos, especialmente diante do estresse e da ansiedade, reforçando o comportamento compulsivo.

COMPULSÕES

Dra Dani Ghorayeb

Blog da Dra Dani Ghorayeb, renomada psicóloga em Campinas no Cambuí
Blog da Dra Dani Ghorayeb, renomada psicóloga em Campinas no Cambuí

As compulsões, sejam elas por comida, compras, sexo ou jogo, envolvem mecanismos neurológicos e psicológicos que acionam o sistema de recompensa e motivação no cérebro, além de circuitos de controle inibitório e tomada de decisão. Abaixo estão os principais aspectos envolvidos:

Sistema de Recompensa
(Circuito de Dopamina):

As compulsões são ativadas principalmente no sistema de recompensa do cérebro, centrado no núcleo accumbens e fortemente influenciado pela dopamina. Quando um comportamento compulsivo é executado, como comer ou jogar, há uma liberação de dopamina, proporcionando uma sensação de prazer. Com o tempo, o cérebro passa a associar esse comportamento com o prazer, gerando uma necessidade de repetição para atingir o mesmo nível de satisfação.

Pré-frontal (Tomada de Decisão
e Controle Inibitório):

O córtex pré-frontal, especialmente as áreas responsáveis pelo controle inibitório e pela tomada de decisão (como o córtex pré-frontal dorsolateral), tem papel crucial em regular impulsos e em ponderar consequências. Em pessoas com compulsões, observa-se uma ativação reduzida ou comprometida dessas áreas, o que dificulta a inibição do comportamento compulsivo.

Sensibilização e Dessensibilização:
Com o tempo, os sistemas de recompensa se sensibilizam, ou seja, o cérebro se torna mais "sensível" ao estímulo da compulsão. Isso significa que estímulos associados à compulsão passam a ativar o sistema de recompensa com mais intensidade, tornando a resposta quase automática.

Em paralelo, ocorre a dessensibilização, onde o prazer obtido da mesma quantidade do estímulo (como comida ou compras) diminui, levando à necessidade de aumentar a frequência ou intensidade para obter o mesmo nível de satisfação.


Estresse e Circuitos de Ansiedade:
O estresse e a ansiedade são gatilhos poderosos para as compulsões. O eixo HPA (hipotálamo-pituitária-adrenal) libera cortisol em resposta ao estresse, o que pode aumentar a vulnerabilidade para comportamentos compulsivos, pois eles funcionam como uma "fuga" momentânea da ansiedade e do desconforto emocional.


Ciclo de Reforço Negativo:
Após o comportamento compulsivo, muitos indivíduos sentem-se culpados, envergonhados ou frustrados, o que gera desconforto emocional. Esse desconforto pode acionar novamente o ciclo compulsivo, já que o comportamento proporciona uma alívio imediato para emoções negativas. Isso reforça a compulsão, perpetuando o ciclo.


Fatores Genéticos e Epigenéticos:
Estudos sugerem que há fatores genéticos e epigenéticos que podem predispor um indivíduo a comportamentos impulsivos.


Fatores Genéticos e Epigenéticos:
Estudos sugerem que há fatores genéticos e epigenéticos que podem predispor um indivíduo a comportamentos compulsivos. Isso não significa que haja um "gene da compulsão", mas que certas combinações genéticas podem tornar o sistema de recompensa mais reativo ou o córtex pré-frontal menos eficaz no controle inibitório.

Esses aspectos são apenas uma parte da compreensão das compulsões, que também estão fortemente ligadas a contextos emocionais, traumas e experiências vividas. Por isso, intervenções costumam envolver estratégias de manejo do comportamento, psicoterapia (como a Terapia Cognitivo-Comportamental), e em alguns casos, medicamentos que auxiliam no controle do impulso e na regulação do humor.

Busca por Controle e Segurança: Pessoas que vivenciaram traumas podem desenvolver uma sensação de insegurança e descontrole sobre o ambiente. Os comportamentos compulsivos, como comer, comprar, ou jogar, proporcionam um senso de controle e previsibilidade, ainda que ilusório e temporário. A repetição desses comportamentos se torna uma forma de alcançar segurança ou aliviar sentimentos de impotência.

Experiências de Rejeição e Autoestima: Sentimentos de rejeição, abandono ou uma autoestima prejudicada - frequentemente presentes em indivíduos com histórico de experiências difíceis - podem levar à busca de gratificação instantânea para compensar essas emoções. Alimentos, compras ou outros tipos de compulsões podem oferecer um alívio temporário, preenchendo momentaneamente o vazio emocional ou a sensação de inadequação.

Condicionamento e Ciclos de Reforço: A repetição de comportamentos para aliviar o sofrimento emocional, como comer para acalmar-se após uma situação de conflito, reforça a associação entre o comportamento compulsivo e a redução temporária do sofrimento. Com o tempo, esse padrão se torna um ciclo automático de reforço, onde o cérebro é condicionado a responder com compulsão sempre que o desconforto emocional surge.

Redução de Funções Inibitórias sob Estresse Crônico: Situações de estresse prolongado podem levar a alterações na função cerebral, incluindo o enfraquecimento do córtex pré-frontal, responsável pelo controle inibitório. Isso reduz a capacidade de resistir aos impulsos e faz com que os comportamentos compulsivos sejam menos controláveis, especialmente sob estresse emocional.

Vulnerabilidade a Estímulos de Recompensa: Indivíduos com histórico de trauma ou contextos emocionais desafiadores podem ter o sistema de recompensa alterado, aumentando a sensibilidade a comportamentos prazerosos. Ou seja, o alívio ou prazer obtido com a compulsão se torna especialmente atraente e viciante, pois oferece uma "pausa" para as emoções intensas que eles enfrentam.

Estigma e Isolamento: Muitas pessoas que passaram por traumas desenvolvem sentimentos de vergonha ou isolamento, o que pode amplificar a dependência em comportamentos compulsivos como uma forma de lidar com o sofrimento psicológico de forma privada, evitando o julgamento alheio e oferecendo uma via de alívio emocional que lhes parece mais "segura" do que buscar ajuda externa.

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