Mindfulness

O que é, de onde vem e por que se tornou tão importante para a saúde, mental e física.

AUTORREGULAÇÃO EMOCIONAL

Mindfulness é uma dessas palavras que todo mundo já ouviu, mas poucas pessoas realmente entendem. Para algumas, parece algo “zen demais”; para outras, uma técnica a mais entre tantas. Mas a verdade é que mindfulness representa uma mudança completa na forma como nos relacionamos com a mente, com o corpo e com o mundo.

Jon Kabat-Zinn, o médico e pesquisador que trouxe mindfulness para a medicina ocidental no fim da década de 1970, costuma definir a prática como:

“a consciência que emerge ao prestar atenção, intencionalmente, ao momento presente, sem julgamentos.”

Não é misticismo, não é pensamento positivo e não é “limpar a mente” — é aprender a estar presente, de verdade, enquanto a vida acontece.

🌱 As raízes: de tradições contemplativas à ciência moderna

As origens do mindfulness estão em práticas meditativas muito antigas, especialmente no budismo. Porém, a forma como conhecemos hoje — como intervenção baseada em evidências — é totalmente secular.

Nos anos 1970, Kabat-Zinn criou, no Centro Médico da Universidade de Massachusetts, o programa Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR), inicialmente para pacientes com dor crônica, câncer, problemas de pele e doenças físicas complexas. O sucesso clínico foi tão grande que o programa se espalhou pelo mundo.

Nos anos 1990 e 2000, Zindel Segal, Mark Williams e John Teasdale integraram mindfulness à terapia cognitiva, criando a Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT) — hoje um dos tratamentos mais bem estabelecidos para prevenção de recaídas depressivas.

Assim, mindfulness deixou de ser algo alternativo para se tornar ciência aplicada, presente em universidades, hospitais, clínicas, escolas e empresas.

🧠 Mas afinal, o que significa “estar mindful”?

Para a psicologia contemporânea, mindfulness envolve dois elementos centrais:

1. Atenção plena: regular a atenção para o momento presente (respiração, movimentos, sensações, pensamentos).

2. Atitude mente-aberta: curiosidade, aceitação e ausência de julgamento.

Parece simples, mas não é. Estamos habituados a viver no piloto automático, com a mente no futuro, no passado ou em histórias internas que muitas vezes aumentam o sofrimento.

Mindfulness nos convida a voltar — ao corpo, à respiração, ao agora.

📚 O que dizem os últimos 10 anos de pesquisa?

A ciência sobre mindfulness explodiu na última década. Pesquisas de nomes como Willem Kuyken, David Creswell, Emily Lindsay, Eric Garland, Judson Brewer, Linda Carlson e tantos outros mostram:

• redução de estresse, ansiedade e sintomas depressivos;

• melhora na qualidade de vida;

• modulação de sistemas neurobiológicos ligados à dor, emoção e estresse;

• efeitos positivos em condições físicas de longa duração, como dor crônica, fibromialgia, hipertensão e doenças oncológicas.

Mas também existe maturidade na pesquisa: mindfulness não é panaceia, nem funciona igual para todos. O impacto depende de fatores como a qualidade do protocolo, a aderência do participante e o objetivo clínico.

💬 Exemplo real do consultório (adaptado e anônimo)

Uma paciente com ansiedade antecipatória vivia em alerta constante. Antes de reuniões importantes, sentia taquicardia, suor nas mãos, pensamentos catastróficos. Ao aprender 3 minutos de atenção plena na respiração, algo mudou.

A ansiedade não sumiu — mas caiu de 9/10 para 6/10.

Foi o suficiente para permitir escolhas mais funcionais.

Mindfulness raramente “apaga” a emoção. Ele abre espaço.

💡 Por que falar de mindfulness agora?

Vivemos sobrecarregados de estímulos, hiperconectados, exaustos emocionalmente e fisicamente. Mindfulness não é uma solução mágica, mas é uma forma concreta, prática e cientificamente fundamentada de:

• compreender o próprio corpo;

• regular estados mentais;

• cultivar presença;

• reduzir sofrimento desnecessário;

• e recuperar autonomia.

No próximo artigo (Parte 2), vamos aprofundar aplicações clínicas, benefícios em saúde mental e física e como mindfulness pode transformar desde comportamento compulsivo até dor crônica.

👉 Parte 2: Mindfulness na prática — aplicações reais em saúde mental e física e exemplos concretos que mostram por que funciona.

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