Quando o adulto se regula, o adolescente aprende

O poder da autorregulação emocional dos pais e educadores

AUTORREGULAÇÃO EMOCIONAL

1. Antes de olhar para o adolescente, olhe para si mesmo

Convivendo com adolescentes, é natural sentir-se frustrado, irritado, impotente ou até magoado.

Mas muitas vezes esquecemos de algo essencial: a forma como reagimos influencia profundamente o cérebro e o comportamento deles.

Um adolescente em crise não precisa apenas de regras, limites ou explicações racionais.

Ele precisa de um adulto emocionalmente estável, capaz de permanecer presente mesmo quando tudo parece um caos.

💬 A autorregulação emocional do adulto é o “andaime” sobre o qual o adolescente aprende a construir a sua própria.

2. O que acontece no cérebro de um adolescente em desregulação

Quando o adolescente se descontrola — grita, chora, se isola, responde ou provoca —, seu sistema límbico (onde vivem emoções como medo, raiva e frustração) está hiperativado.

Nesses momentos, o córtex pré-frontal, responsável por refletir e conter impulsos, fica “offline”.

Por isso, discutir, gritar de volta ou ameaçar não funciona: o adolescente não consegue raciocinar enquanto o corpo e o cérebro estão inundados por emoção.

A única forma de ajudá-lo a se reorganizar é oferecendo estabilidade emocional externa — ou seja, a presença calma e regulada do adulto.

Mas para isso, o adulto precisa reconhecer e manejar as próprias emoções.

3. O cérebro do adulto também reage

Quando um adolescente eleva o tom, desafia ou critica, o sistema emocional do adulto também é ativado.

A amígdala do adulto percebe o tom de ameaça e reage: raiva, ofensa, medo de perder o controle, sensação de desrespeito.

Se o adulto não percebe o que está acontecendo dentro de si, entra na mesma desregulação.

👉 E dois cérebros desregulados não constroem diálogo — se inflamam mutuamente.

Por isso, autorregular-se é um ato de consciência e autocuidado, não de fraqueza.

Significa escolher responder em vez de reagir, mesmo quando o impulso pede o contrário.

4. O poder do autoconhecimento nas relações com adolescentes

Reconhecer o próprio funcionamento emocional é o primeiro passo para lidar com o adolescente de forma eficaz.

Isso inclui perceber:

• Quais situações me tiram do eixo?

• Que emoções eu costumo sentir diante da desobediência ou enfrentamento?

• Como meu corpo reage quando fico irritado, frustrado ou desrespeitado?

• Quais pensamentos automáticos me levam a reagir com impulsividade?

Esse tipo de autorreflexão permite identificar gatilhos e, com o tempo, criar novas rotas de resposta emocional — mais conscientes, firmes e empáticas.

💡 O adulto que se conhece é o adulto que educa com presença, e não com reatividade.

5. Quando o adulto se regula, o adolescente espelha

O cérebro do adolescente é moldado pelas experiências de convivência.

Se ele vive em meio à gritaria, à impulsividade e ao descontrole, aprende que esse é o modo natural de reagir.

Mas se convive com um adulto que respira antes de responder, que fala firme sem elevar o tom, que acolhe sem ceder ao caos, o cérebro dele aprende o caminho da regulação.

As emoções são contagiosas — biologicamente.

Quando o adulto mantém a calma, o sistema nervoso do adolescente “espelha” essa calma, e a amígdala dele começa a desacelerar.

💬 O adulto regulado é o maior antídoto contra a desregulação adolescente.

6. Estratégias práticas para pais e educadores

🌿 1. Pausar antes de reagir

Ao perceber irritação ou raiva, respire profundamente antes de responder.

Essa pausa de segundos permite que o pré-frontal recupere o controle sobre o emocional.

“Eu preciso de um instante para pensar” é um ato de sabedoria, não de fraqueza.

💬 2. Nomear o que se sente

Identifique mentalmente o que você está sentindo: “Estou frustrado”, “Estou cansada”, “Sinto-me desrespeitado”.

Nomear diminui a intensidade emocional — é ciência, não misticismo.

🧠 3. Relembrar o propósito

Quando o adolescente grita, pergunte-se:

“Qual é o objetivo aqui — vencer ou ensinar?”

Essa simples pergunta reconecta o adulto ao propósito educativo, e não à disputa de poder.

❤️ 4. Modelar regulação

Falar com calma, mesmo diante da provocação, é uma lição silenciosa.

O adolescente aprende observando a conduta emocional do adulto.

🤝 5. Conversar depois, não durante

O diálogo produtivo acontece após a calma, nunca durante o turbilhão.

“Vamos falar quando estivermos tranquilos.”

Nesse momento, o cérebro está novamente disponível para aprender.

7. A maturidade emocional é construída, não herdada

Ser um adulto regulado não significa nunca se descontrolar,

mas reconhecer quando isso acontece — e saber voltar ao eixo.

Pais e educadores também têm limites, cansaço, dores e histórias emocionais próprias.

Mas o autoconhecimento e o treino da autorregulação são o que tornam possível o verdadeiro papel educativo: guiar sem reagir, compreender sem justificar, corrigir sem ferir.

8. Conclusão: o adulto como referência emocional

A convivência com adolescentes desafia qualquer adulto — e é justamente por isso que ela revela o quanto ainda podemos crescer emocionalmente.

Quando o adulto se conhece, reconhece suas emoções e aprende a regulá-las,

ele se torna o modelo mais poderoso de equilíbrio que um jovem pode ter.

🌱 A calma do adulto é o solo onde o adolescente aprende a florescer.

Educar é, antes de tudo, um encontro entre dois cérebros em amadurecimento —

um já experiente, outro em construção.

E ambos aprendem, um com o outro, todos os dias.

Referências essenciais

• Siegel, D. J. (2012). The Whole-Brain Child.

• Linehan, M. M. (2015). DBT Skills Training Manual.

• Davidson, R. J. & McEwen, B. S. (2012). Social Influences on Neuroplasticity.

• Perry, B. D. & Winfrey, O. (2021). What Happened to You?

• Goleman, D. (2006). Emotional Intelligence.

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